Atendendo à sugestão de nossa leitora e parceira Luciana (
http://guppies-guppy.blogspot.com/), que me perguntou por que eu não fazia um post crítico em relação à reação do governo diante da gripe A (H1N1); sendo que o ministro da saúde e outros representantes do governo brasileiro dizem sempre que a situação está sob controle, e que o alarme é grande demais, dizem que o Brasil está preparado sim para a gripe, etc. e ainda assim o número de infectados dobra a cada semana. Pois bem, sugestão aceitadíssima:
Até a primeira semana desse mês, foram 94512 casos confirmados da gripe A (H1N1) em todo o mundo, em 153 países - para os menos informados, a Organização das Nações Unidas conta 193 países em todo o mundo. Assim sendo, aproximadamente 80% dos países do globo já apresentam infectados com a nova gripe. Já são 429 mortes, e o número vem aumentando.
O Brasil consta 22 mortes, e 1175 infectados. Nada como os números assustadores dos primeiros colocados no ranking de infecção (Estados Unidos com 33902, México com 10262, Canadá com 7983, Reino Unido com 7447 e Chile com 7376), mas já é um número preocupante - e o governo continua dizendo que está tudo sob controle.
A pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, fez na segunda-feira 13 uma espécie de balanço das ações que estão sendo realizadas para o combate da gripe A (H1N1) no país. Temporão mencionou que entre as medidas está a montagem de postos avançados em parceria com a Polícia Rodoviária Federal para ter controle total da entrada de turistas vindos de países com registros da contaminação. Segundo o ministro das Relações Institucionais, José Múcio, o governo está preparado para enfrentar o vírus e - desde a montagem dos postos - vem realizando um bom trabalho.
É verdade, o trabalho do governo para impedir a entrada de infectados no Brasil realmente deu resultado. O Brasil não é um país considerado com transmissão sustentada, ou seja, a grande maioria das pessoas que pegaram o vírus pegaram fora do país ou de pessoas que vieram de fora do país. Situação bem diferente da Argentina, que tem a maior taxa de letalidade do mundo - 3056 infectados e 127 mortos - 4,48%. Mas não ser um dos países com transmissão sustentada não é lá grande coisa, afinal dos 193 países apenas sete têm transmissão sustentada: Estados Unidos, México, Canadá, Chile, Austrália, Reino Unido e Argentina.
Outro argumento muito usado pelo governo para acalmar a população e minimizar os efeitos da gripe suína na opinião pública é compará-la com a gripe comum, afinal a comum mata, no mundo, de 250 a 500 mil pessoas anualmente, sendo que no Brasil apenas o Sistema Único de Saúde (SUS), que não inclui hospitais particulares, conta trinta mil mortes anuais. Números bem maiores que os da gripe suína. Esse argumento do ministro da saúde quase me convenceu de que a gripe A (H1N1) nãe era um problema tão grande quanto a mídia diz.
Eu disse quase. Porque a gripe A (H1N1) tem um grau de mutação exorbitante; ou seja, ela sofre mutações e - se atingir certo número de contaminações em um príodo de tempo hábil - torna-se muito mais difícil de combater do que a gripe comum.
Na realidade, o que acontece é que a gripe suína está sendo combatida da melhor maneira possível, tanto é que existe uma vacina sendo produzida e que deve ser lançada nos Estados Unidos em setembro desse ano, e no Brasil em 2010. Porém, o governo deve tratar a gripe com maior seriedade. Deve-se preparar os hospitais públicos para possíveis epidemias. Deve-se alertar mais fortemente a população para os riscos, o contágio, a prevenção da gripe; e não deixar todo o trabalho para a mídia e dizer apenas: o Brasil tem tudo sob controle.
Outra notícia que causou grande estardalhaço foi uma publicação feita pelo jornal A Folha de São Paulo que afirma que a gripe A pode infectar entre 35 a 67 milhões de brasileiros nas próximas cinco a oito semanas. Os cálculos baseiam-se num modelo matemático estático criado por epidemiologistas, com base no perfil de pandemias anteriores. Porém o jornal sublinha que este estudo não é específico para o vírus H1N1. Segundo o mesmo esquema, de três milhões a 16 milhões de brasileiros vão exigir tratamento médico e entre 205 mil e 4,4 milhões vão ter de ser hospitalizados. É como foi grifado, o estudo não fo feito para o vírus H1N1, e sim baseado em diversas epidemias anteriores - quando os recursos médicos e de assistência à população, assim como as tecnologias em medicação eram muito menos avançados - muito mais fortes, como a famosa gripe de 1928, que matou dezenas de milhões de pessoas.
Essa gripe voltou a ser muito comentada pois seu vírus tinha uma característica que o tronou extremamente difícil de ser combatido: alta taxa de mutação, exatamente a característica mais marcante do vírus da Influenza A. Porém, como foi dito, as tecnologias médicas e a velocidade com que uma informação se espalasse para que todos os governos se dessem conta do problema eram totalmente adversas. "Situação de 2009 não é a mesma da pandemia de gripe de 1918", disse historiador da medicina ao jornal Le Monde.
Portanto, a gripe está sendo combatida sim, mas talvez nãe esteja sendo encarada com a seriedade merecida e, devido a esse descaso do governo, medidas um pouco mais drásticas não estão sendo tomadas - provavelmente para evitar alarme na população - e os riscos de epidemia que os brasileiros correm tornam-se cada vez maiores. É como foi bem lembrado pela Luciana, o número de mortes vem, em média, duplicando de uma semana para outra; e tende a piorar. Precisamos que o governo encare a situação com mais gravidade. E aqui deixo meu apelo.
Agradeço sua sugestão, Luciana, e espero que o post esteja à altura de sua expectativas. Aproveito também para incentivar sugestões de posts; é muito melhor escrever quando sabemos que vocês se interessam pelo assunto, que querem mais informação, ou que simplesmente querem compartilhar uma boa idéia. (;
Olhaissodaí.
C.